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Como oferecer um ensino inclusivo para alunos com transtornos de aprendizagem






Oferecer uma educação que alcance a todos é um desafio para as escolas. Além de cada aluno ser um indivíduo único e, portanto, com um perfil de aprendizagem que pode não ser o tradicional, ainda há questões mais orgânicas que também afetam o aprendizado. Estamos falando dos transtornos de aprendizagem e de outros que, embora não sejam específicos da aprendizagem, a impactam diretamente.


Hoje vamos falar sobre esse assunto e levantar algumas ações que a escola pode fazer para promover o ensino inclusivo e driblar os obstáculos que estão no caminho da aprendizagem. Vamos lá?


O que são os transtornos de aprendizagem?


Primeiramente, vamos entender o que são transtornos de aprendizagem. Tratam-se de dificuldades específicas de aprendizagem provocadas por determinadas disfunções neurológicas. Essas inabilidades - que podem ser leves, moderadas ou graves - podem afetar a leitura, a escrita e os cálculos matemáticos. Os transtornos de aprendizagem mais comuns são: dislexia, discalculia, disgrafia e disortografia.


Há também transtornos relacionados a outras áreas, como por exemplo comunicação e concentração. Esses não são considerados transtornos específicos de aprendizagem, mas a afetam profundamente. Entre eles estão o TDAH, o TPAC e o autismo.


Os transtornos não significam que o aluno não tenha a capacidade de aprender. O cérebro dele apenas trabalha de uma forma diferente em certos aspectos. O problema é que esses aspectos frequentemente não são levados em consideração no ensino tradicional, o que acaba mascarando o verdadeiro potencial daquela criança ou adolescente.


Como oferecer um ensino inclusivo?


Há várias iniciativas que a escola pode promover para oferecer um ensino mais inclusivo para alunos com transtornos de aprendizagem e outros transtornos que também a afetam. Veja algumas:


Criação de Plano Educacional Individualizado


O Plano Educacional Individualizado (PEI) é um documento que reformula a organização curricular levando em consideração as necessidades específicas de alunos com transtornos ou deficiências que a escola possua. Ele serve como um guia para os professores, para que eles apliquem estratégias para desenvolver potenciais nesses estudantes que ainda não foram bem consolidados.


Com o PEI, o educador será capaz de enxergar os seus alunos por um prisma único, entendendo os seus transtornos, no que eles implicam e o que é preciso para driblar os obstáculos e levar o aprendizado a esses estudantes.


Para a elaboração do PEI, é fundamental a participação de especialistas; das famílias dos alunos com transtornos ou deficiências; e também dos próprios estudantes em questão. Com essas colaborações, a escola será capaz elaborar um documento que realmente possa ter sucesso em sua aplicação prática. É essencial também que ele seja revisto de tempos em tempos.


Treinamento dos professores


Uma outra ação muito importante para que a escola possa incluir alunos com transtornos de aprendizagem é o treinamento dos professores. É essencial que eles sejam treinados em duas esferas:


  • Identificação


Muitos alunos com transtornos de aprendizagem não têm um diagnóstico. É comum que o transtorno seja identificado pela primeira vez pelo próprio professor. Então, é importante que esse educador seja habilitado para entender e identificar transtornos de aprendizagem. Assim, a escola pode orientar os pais para que busquem um diagnóstico com um especialista.


  • Ensino inclusivo


Os educadores também devem ser treinados para que possam aplicar estratégias que visem promover o ensino inclusivo para alunos com transtornos de aprendizagem e com outros que também a afetam. Nesse treinamento, é fundamental que a instituição possa contar com a ajuda de especialistas.


Uso da tecnologia para práticas inclusivas


A tecnologia traz diversas possibilidades para a promoção do ensino inclusivo a alunos com transtornos de aprendizagem e outros. Veja algumas:


  • Gravação das aulas


Alunos com transtornos ligados à concentração são muito favorecidos com a disponibilização de aulas gravadas. Com elas, eles têm a possibilidade de:



  1. Assistir às aulas quantas vezes julgarem que é necessário

  2. Pausar

  3. Voltar até um ponto que não ficou muito claro



Para esses alunos, possibilidades como essas fazem uma diferença enorme. Isso porque, em aulas normais, quando uma explicação passa batida, dificilmente o estudante consegue recuperá-la. E como ele já tem um transtorno que afeta a concentração, é comum que uma grande quantidade de explicações passe batida. Então, esse aluno acaba sendo muito prejudicado se ele não tem a possibilidade de voltar atrás e rever o que foi dito.


Na pandemia, muitas escolas adquiriram equipamentos para a gravação de aulas. Inclusive, quando o ensino se tornou híbrido, as aulas que eram lecionadas em sala para um grupo de alunos eram também gravadas ou transmitidas ao vivo para outro grupo que estava em casa. Então, para a aplicação da ideia deste tópico, bastaria que a instituição voltasse a gravar as aulas que ocorrem em sala e depois as disponibilizasse aos alunos.


  • Uso de recursos multimídia e práticas variadas


O uso de materiais digitais favorece muito o ensino inclusivo, especialmente se eles forem multissensoriais. Eles podem ajudar a trabalhar com transtornos de aprendizagem e outros que a afetam, tanto por meio de práticas na sala de aula quanto de forma complementar.


Para alunos com transtornos ligados à concentração, os materiais digitais ajudam a tornar a aula muito mais interessante, especialmente se ela for compartimentada em momentos diferentes e cada um deles utilizar um formato variado de material. Isso ajuda a captar a atenção da turma de uma forma geral, e principalmente daqueles estudantes que não a têm como forte.


Para alunos com dislexia em fase de alfabetização, já existem ebooks interativos que auxiliam na associação de letras e números com suas respectivas correspondências fonéticas por meio de recursos drag and drop. Há também outros ebooks multissensoriais que associam palavras a sons, como um som de chuva, por exemplo. Isso colabora para a leitura, pois reduz a sobrecarga na memória de trabalho durante essa atividade.


  • Disponibilização de computadores ou tablets


Alunos com disgrafia têm muito mais facilidade de escrever digitando do que de forma manual. Isso porque uma das características desse transtorno de aprendizagem é a caligrafia ilegível. Inclusive, é muito mais fácil conseguir entender o que um aluno com esse transtorno escreve se a escrita não for manual.


Isso não quer dizer, é claro, que esse estudante não deva treinar caligrafia ou escrever manualmente em certos momentos, para avançar nesse aspecto. Porém, em tarefas em que ele tenha um raciocínio a desenvolver e um tempo para isso, é importante que ele possa escrever em um tablet ou em um computador. Assim, conseguirá construir uma narrativa sem ficar travado em um aspecto que é apenas motor, e não intelectual.


  • Mescla de momentos síncronos e assíncronos


Um ensino que contemple momentos síncronos e assíncronos colabora bastante para o aprendizado de alunos com transtornos de aprendizagem e outros. Isso porque o ritmo deles nos aspectos relacionados às suas inabilidades costuma ser mais lento do que o da média. Porém, se eles tiverem o tempo de que necessitam, poderão consolidar aquele aprendizado.


Por isso, se a escola adotar um ambiente virtual de aprendizagem e mantê-lo sempre abastecido com conteúdos que reforcem o que foi visto em aula, isso ajudará bastante. O aluno poderá acessá-lo de casa no horário em que achar que rende mais, estudar os conteúdos durante o tempo que achar necessário, fazer quantas pausas sentir que precisa e aprender dentro de um ritmo que é só dele.


É interessante também a aplicação do modelo “sala de aula invertida”. Nele o aluno estuda em casa os materiais previamente disponibilizados pelo professor. Depois, em sala de aula, reforça aqueles aprendizados por meio de várias abordagens ativas.


Avaliações personalizadas de alunos com transtornos de aprendizagem


Além de promover um ensino inclusivo, também é importante avaliar essas aprendizagens de forma inclusiva. É essencial que o meio utilizado para realizar essas avaliações não possua entraves que ocultem o verdadeiro potencial dos alunos em relação aos conhecimentos que realmente precisam ser avaliados.


Um aluno com dislexia, por exemplo, terá mais facilidade em uma prova oral do que em uma escrita. Se a avaliação dele não atender a essa necessidade, existe uma grande possibilidade de que ela falhe em determinar se ele tem ou não o conhecimento que deveria ter sobre o assunto X.


Já um aluno com disgrafia que for avaliado por uma redação escrita manualmente dentro de um tempo X poderá não conseguir mostrar a sua real capacidade de raciocínio. Ele perderá mais tempo lutando para desenhar as letras do que construindo a narrativa. Se ele puder escrever a redação em um computador, terá um obstáculo a menos. Acredite, esta autora fala com propriedade de causa.


Para que a escola possa fazer avaliações realmente inclusivas, é importante que ela avalie caso a caso. Cada transtorno de aprendizagem possui necessidades diferentes. Avaliar de forma diferente não é fazer uma avaliação mais fácil, não é avaliar de forma que o estudante precise ter menos mérito para passar, é apenas retirar os entraves que estão ocultando o real objeto daquela avaliação.


A dica então é observar quais alunos possuem esses transtornos - tendo eles um diagnóstico ou não - e criar formas de avaliação personalizadas de acordo com cada transtorno. Assim, as notas dos alunos conseguirão refletir o potencial que eles têm, e isso impactará inclusive na autoestima deles, que normalmente fica muito abalada pela disparidade entre notas x potencial.


Orientação às famílias dos alunos


Um outro pilar muito importante com relação ao ensino inclusivo é a família. A participação de pais e responsáveis impacta no rendimento dos alunos de uma forma geral. Porém, se eles possuem transtornos de aprendizagem, esse impacto é ainda maior.


É importante que os pais sejam muito participativos e que recebam orientações da escola em dois sentidos:


  • Diagnóstico: muitos alunos com transtornos de aprendizagem não têm um diagnóstico, como já comentamos. Logo que os professores desconfiarem que existe um transtorno, é importante que orientem os familiares para que procurem um especialista, para que ele possa dar um diagnóstico.


  • Atividades para casa: a colaboração dos pais e responsáveis em casa faz uma grande diferença para estudantes com transtornos de aprendizagem. É importante que a escola oriente-os a como criar um plano de estudos em casa que ajude o aluno a progredir nos aspectos em que ele tem inabilidades e a consolidar os conhecimentos necessários de uma forma geral.


Finalizando


A educação faz a diferença no mundo. Porém, o mundo não é composto apenas de neurotípicos. Fazer com que a educação chegue a todos é uma missão das escolas, e as que a perseguem com empenho transformam vidas e transformam sociedades. Afinal, o que não falta na história são personagens neurodiversas que deram significativas contribuições ao mundo.


Se a sua instituição de ensino ainda não possui práticas ou um planejamento estruturado para trabalhar com transtornos de aprendizagem, sempre é tempo de começar. Apenas dê o primeiro passo!





Graziela Balardim A autora é jornalista, pós-graduada em Produção Multimídia, atua na ClipEscola como Conteudista de Marketing Digital e possui disgrafia.



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