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Está na hora de trocar a régua pelo escalímetro - avaliação na educação


escalímetros - régua triangular


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Somos quase 8 bilhões no mundo e com tanta gente assim, seria fácil imaginar que existem muito mais semelhança do que diferenças, afinal somos todos seres humanos.

No entanto, nosso cérebro nos torna totalmente únicos, isso podemos garantir. Cada um de nós tem ao redor de 86 bilhões de neurônios com mais de 100 trilhões de conexões neurais, nem gêmeos univitelinos, aqueles que são a cara um do outro, são iguais em suas configurações cerebrais.


Desde a antiguidade as pessoas são fascinadas pelo cérebro, que vem sendo estudado das mais diversas formas, mas a neurociência como campo específico de trabalho se estabeleceu há menos de 60 anos, quando exames de imagens e novas tecnologias permitiram o estudo do cérebro em funcionamento.


Ainda temos muito a desvendar, no entanto sabemos o suficiente para entender que cada um é único, em sua visão de mundo, suas competências, suas dificuldades, sua evolução, na maneira como experiencia o mundo, seus sentimentos e emoções.


E apesar de termos plena consciência disso e imagino que ninguém levantaria a mão aqui para discordar do fato de sermos únicos, insistimos de forma quase compulsiva em avaliar as pessoas usando uma mesma régua.

Nós, os seres humanos, fomos ganhando gosto pelas padronizações e classificações ao longo principalmente dos últimos dois séculos. Gostamos de classificar por semelhança, e damos caixas para tudo.


Essa necessidade de enxergar padrões para poder classificar e organizar a complexidade do nosso mundo, fez com que cientistas como Francis Galton e Alfred Binet desenvolvessem o teste psicotécnico, que mede habilidades cognitivas e características psicológicas, seguidos por Binet-Simon com o teste de QI, depois adaptado por Lewis Terman nos Estados Unidos.

Esses testes foram uma coqueluche, verdade é que ainda são bastante utilizados, no entanto, evoluímos e questionamos esses padrões estabelecidos, ainda bem!!!

O teste de QI por exemplo, tende a valorizar certos tipos de habilidades cognitivas, como habilidades verbais e lógico-matemáticas, em detrimento de outras formas de inteligência, como habilidade interpessoais, criatividade ou habilidades práticas.


Nas escolas seguimos a mesma tendência de padronização de testes e avaliações, que focam na habilidade de comunicação escrita dos estudantes, já que esses testes raramente são orais ou práticos.


Estudantes com habilidades visuais-espaciais, habilidades práticas, habilidades sociais e interpessoais saem perdendo, pois essas, embora extremamente necessárias para o desenvolvimento e evolução do mundo, não são avaliadas nem sequer valorizadas na escola tradicional.

Só que o que pode parecer apenas uma chance maior de tirar notas ruins em provas, na verdade é bem mais complexo.

A recorrência de baixo desempenho em provas escolares, faz com que esses estudantes se questionem quanto à sua própria capacidade, passando a acreditar que não tem as competências necessárias para perseguir seus sonhos.


Além dessa clara diminuição na autoestima, a falta de uma valorização de suas habilidades pessoais gera uma sensação de desencaixe no ambiente escolar, uma falta de pertencimento que leva muitas vezes a uma evasão.

E a evasão escolar, sabemos que leva a uma limitação de empregabilidade, com consequências muitas vezes devastadoras em tantas vidas.


Está na hora de questionarmos essa régua única que mede nossos estudantes e que para facilitar comparativos de desempenho ou evolução, desconsidera as pessoas, causa traumas, desgastes, sofrimentos que poderiam ser evitados. Mais do que isso, não contribui para o desenvolvimento de habilidades que são essenciais para construirmos um mundo mais justo e equânime, como empatia, respeito, tolerância, comunicação assertiva e não violenta, pensamento crítico, colaboração e autonomia.


A padronização é muito útil para organização, estruturação de raciocínio, controle e identidade; no entanto deve ser vista com a criticidade necessária, pois é limitadora e simplista.


Nossa régua única deveria ao menos ser substituída pelo escalímetro, aquela régua triangular que os engenheiros e arquitetos conhecem bem, e que para um mesmo traço tem ao menos 6 medidas diferentes!




Nadine Heisler

Nadine Heisler

Educadora e coordenadora do Instituto Domlexia

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