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Afinal, neurodiversidade... diz respeito a o que?


balança de equilíbrio, com dois potes diferentes de cada lado


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Neurodiversidade é um termo cunhado no final dos anos 90 por Judy Singer:

“A biological truism that refers to the limitless variability of human nervous systems on the planet, in which no two can ever be exactly alike due to the influence of environmental factors.”

 

É um termo que se refere a toda a humanidade e que traz fundamentalmente o conceito de que as diferenças do sistema nervoso são base para o nosso desenvolvimento como sociedade, e que essas diferenças não devem ser tratadas como doenças (em tempo, Judy Singer é autista). Ainda usando dos termos, podemos falar em neurodivergentes (e aqui incluímos os grupos com dislexia, discalculia, disgrafia, TDAH, autismo, dentre outros) e os neurotípicos, aqueles que apresentam um desenvolvimento considerado “normal” pela sociedade. As aspas aqui são necessárias pois a definição de normal por si só é relativa. Normal depende do ambiente, da sociedade e de outros diversos fatores.

 

Cada uma dessas divergências traz características de comportamento diferenciadas, mas é importante frisarmos de que não estamos falando de uma deficiência (exceção feita a graus de autismo).

 

Para contextualizar melhor, vamos falar um pouco sobre aquela que damos mais foco no Instituto, a dislexia: “dificuldade de aprendizagem de origem neurológica

especificamente afetando a aquisição da leitura e escrita, pela dificuldade de decodificação fonética. É um funcionamento diferente do cérebro, não sendo algo ‘curável’, mas sim contornável através da mediação de aprendizado adequada.”

 

É comum a um disléxico cometer erros repetitivos de escrita, ou mesmo se esquivar de leituras de grandes volumes. Um relatório de 300 páginas pode ser uma verdadeira tortura! E o pior, acabamos colocando um rótulo nesse grupo de pessoas....

 

O que é importante entendermos é que uma diferença neural, assim como dificuldades, traz também alguns superpoderes, como gosta de falar Richard Branson, fundador e presidente da Virgin.

 

Dentre esses poderes podemos citar liderança, capacidade de ver o todo, memorização de imagens, pensar fora da caixa .... e o que mais chama a atenção, a capacidade de pensamento divergente.

 

Vejam a conclusão do estudo “Are Dyslexic People more Creative? Myth or Reality: A Meta-analysis” feito por pesquisadores espanhóis:

 

“… when we consider creativity as some category of divergent thinking (for example, creativity understood as fluency to generate ideas) people with dyslexia score higher in creativity than people without dyslexia. This result is observed for the categories of fluency, originality, abstractness, elaboration, and flexibility.”.

 

Importante observar que essa pesquisa tem como base cerca de 2000 estudos publicados nas principais bases acadêmicas, Web Of Science e Scopus. Pessoas conhecidas pelo seu pensamento fora da caixa pertencem a esse grupo: Steve Jobs, Bill Gates, Einstein, Woody Allen dentre vários outros.

 

Assim como a dislexia, temos outras neurodivergências que iremos encontrar em nosso dia a dia:


o   Discalculia - dificuldade em contar, reconhecer padrões, reconhecer números, contar as horas, fazer troco com dinheiro;

o   Disgrafia – dificuldade com a escrita;

o   TDA - desatenção e a dificuldade em se concentrar;

o   TDAH – similar a anterior com características de hiperatividade;

o   Autismo - condição neurológica e de desenvolvimento que afeta a forma como as pessoas pensam, interagem, comunicam e se comportam;

 

E assim como a dislexia, trazem seus superpoderes associados. Discalculia e disgrafia, similar a dislexia (e muitas vezes encontrados juntos), também tem uma capacidade diferenciada de enxergar o todo, contar histórias e trabalhar em times. Para os TDAHs é muito comum encontramos a capacidade de hiper foco, concentração por horas em atividades que sejam de seu interesse. Autistas tem atenção a detalhes e alta capacidade de concentração. Para esse grupo vale uma rápida observação: o espectro é bem amplo e em alguns casos a socialização pode ser dificultada, mas em muitos deles alguns ajustes no ambiente de trabalho já abrem espaço para o seu desenvolvimento.

 

E esses superpoderes podem ser o diferencial para uma empresa.


Áreas de inovação para dislexia, discalculia e disgrafia. Serviços de urgência para TDAH. Áreas de dados para autistas. Nos Estados Unidos já existem empresas de recrutamento especializadas nesses perfis e que mostram a força para o mundo corporativo.

 

Mas para atrairmos esses profissionais precisamos repensar alguns processos como recrutamento, liderança, cultura, avaliação. Rever ambiente de trabalho, cuidado especial a ambientes abertos e barulhentos. Dar espaço para os colaboradores se pronunciarem sem juízo de valor, compartilhar conhecimento para que todos fiquem atentos aos seus colegas e assim construir um ambiente mais inclusivo.

 

Em tempo: estima-se algo como 20% da população com alguma neurodivergência. Se queremos falar em inclusão precisamos passar a olhar esse público com mais atenção.

 

Vamos conversar?



imagem de homem - Celso Fleury Roberti

 

Celso Fleury Roberti Coordenador de digital & inovação do Instituto Domlexia

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